Depressão: Um olhar psicanalítico entre Freud e Lacan
- janainalimaborgesp0
- 13 de nov.
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A depressão, na perspectiva psicanalítica, não se reduz a um transtorno do humor nem a um desequilíbrio químico isolado. Para Freud e Lacan, ela é um fenômeno que emerge no campo do desejo, da perda e da relação do sujeito com o outro e consigo mesmo.
Em “Luto e Melancolia” (1917), Freud distingue o luto saudável da melancolia. No luto, o sujeito sofre a perda de um objeto amado e, apesar do sofrimento, mantém preservado o valor do eu. Na melancolia, porém, há uma identificação inconsciente com o objeto perdido. O sujeito dirige contra si mesmo a hostilidade que originalmente pertencia ao objeto. Daí a auto depreciação, a culpa excessiva e a sensação de indignidade tão comuns na depressão. O eu se torna palco de um conflito: o sujeito se pune por aquilo que não consegue elaborar simbolicamente.
Para Lacan, a depressão está ligada a uma falha na inscrição do desejo. No Seminário 11 e em textos posteriores, ele afirma que a depressão é o preço pago quando o sujeito se afasta do seu próprio desejo, tentando corresponder ao desejo do Outro. Há um apagamento da posição subjetiva: o sujeito deixa de se reconhecer como agente de seu querer e adere a um estado de “deserção do desejo”.
Enquanto para Freud a depressão está ligada ao ódio voltado contra o próprio eu, resultado de um amor não resolvido e de uma perda não simbolizada, para Lacan o ponto central é a relação do sujeito com o significante que o constitui. A depressão aparece quando o sujeito se percebe como “objeto descartável” no discurso do Outro, perdendo o sentido de existir como desejante.
Por isso, a intervenção psicanalítica não se dirige a “eliminar sintomas”, mas a recolocar o sujeito em relação com sua verdade inconsciente. O tratamento abre espaço para que o sujeito nomeie sua perda, compreenda a quem dirige seu ódio, recupere sua posição desejante e ressignifique sua relação com o gozo que o aprisiona.
A depressão, nesse enquadre, não é fraqueza, mas um modo de funcionamento psíquico que revela conflito, identificação e desejo. É pela fala e pelo encontro com o inconsciente, que o sujeito pode reinventar seu lugar e reencontrar uma forma singular de viver.
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